terça-feira, 2 de novembro de 2010

Uma experiência com outra pseudolálica

Quando comecei a namorar meu marido, uma das histórias do seu passado, contada por minha sogra, era sobre uma menina que inventava histórias fabulosas entre eles.
Uma vez, ela inventou para o condomínio inteiro que os dois haviam viajado juntos para São Paulo. Qual não foi a surpresa das pessoas que o viram circulando na cidade logo no dia seguinte.
Em outra ocasião, eles foram para o Rio de Janeiro.
Por último, ela tentou se suicidar.


História maluca? Acredite, vai piorar.


Há dois anos atrás, conheci essa menina num grupo de pessoas.


Nossa! Suas histórias eram realmente mirabolantes e fantasiosas.
Na época, não dei muita importância aos fatos.


Agora, dois anos depois, nos reencontramos.
Por incrível que pareça, as histórias ficaram ainda mais fantásticas!
Era um emprego numa multinacional em São Paulo (ela tem um 'affair' com essa cidade), salário fantástico, namorada nova (nesse meio tempo, ela virou lésbica) e um filho de 4 ou 5 meses.
De tudo que ela contou, posso dizer com certeza que aquela multinacional não tem filial em Sampa, que só um engenheiro pode vir a ter o salário que ela afirmava ganhar, e um conhecido em comum nos contou que ela nunca esteve grávida, e o filho era apenas mais uma de suas mentiras.


Passei a sentir pena dessa menina, pois alguém que mente tanto só pode ser uma pessoa atormentada e sozinha. Comecei a não dar mais importância às coisas que contava, e nem perguntava mais a respeito de nada, mas não mudei a minha maneira de tratá-la.
Até que, no último domingo, outra pessoa do nosso grupo, veio contar-me que as suas mentiras começavam a ficar sérias: a menina havia espalhado para todos os grupos daquela escola que o pai do seu filho era o meu marido.


Foi um choque.
Em momento algum pensei que meu marido poderia ter me traído ou algo parecido, mas estava surpresa com a sitação.
Naquele momento, percebi que estava sentindo exatamente o que as pessoas sentem quando descobrem uma mentira minha.


Depois disso, não consegui mais ser a mesma com essa menina. Mal podia olhar em seus olhos.
Ela inventou várias outras histórias envolvendo o suposto filho do meu marido (já contei que essa criança não existe?), mas eu a afastei do nosso grupo.


Eu não tive a mesma nobreza que as outras meninas tiveram comigo há duas semanas atrás. Elas me perdoaram, e continuaram minhas amigas, mas não tive essa capacidade.
Hoje entendi a gravidade de todas as coisas que já fiz, e de todas as mentiras que já contei.



Depois disso, pensei muito a respeito de tudo que aconteceu, e isso me fez entender o quanto é necessário que eu mude para não perder as pessoas que amo.

Sempre é tempo de recomeçar.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Mais um dia...

Não estou muito bem hoje.
Fico triste, pois está bem difícil me controlar.
Estou ansiosa para encontrar Carmencita novamente.

Sei que essa ansiedade não vai me ajudar, mas preciso seguir em frente.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A primeira consulta com psiquiatra.

Já havia recorrido a ajuda de um profissional desses há muito tempo atrás, mas para tratar de alguns sintomas que acreditava ser depressão.
Não tive afinidade nenhuma com esse outro profissional, não conseguia me sentir bem com ela.
Tudo que fazia era o tempo todo comparar meus sintomas com Transtorno Bipolar, que é a doença psiquiátrica da moda.
Consultei apenas duas vezes, e abadonei o suposto tratamento a base de Sertralina 25 mg.

Mas ontem foi bem diferente. Saí de casa convicta que dessa vez iria fazer de tudo para resolver meu problema.
Criei coragem e fui a minha primeira consulta com uma psiquiatra pelo vício da mentira.
No caminho, enquanto dirigia, ficava ensaiando como iria falar e coisas do gênero.
Por ser um assunto muito constrangedor, e não ter a menor idéia de como seria a psiquiatra que me atenderia, estava muito tensa.

Ao chegar no consultório, me deparei com uma figura diferente, mas muito agradável.
Para preservar sua identidade, assim como a minha, vou chamá-la carinhosamente Carmencita.
Uma senhora de uns 50 anos, vaidosa, e até bem bonita para a idade que aparenta.

Foi difícil começar a explicar por que estava ali, mas foi só no começo.
Ela foi tão agradável, e me deixou tão a vontade que as palavras fluíam da minha boca naturalmente.
Não conseguiria confidenciar com uma amiga, ou meu marido, tudo que falei durante aquela consulta.
Ter alguém imparcial te ouvindo, sem te julgar em momento algum, faz toda a diferença.

Comentei a respeito de minhas pesquisas na Internet sobre a Pseudolalia, mas Carmencita estava preocupada em me tratar, e não em achar rótulos para meu distúrbio.

Algumas coisas, parece que 'a ficha foi caindo'. 
Por exemplo, falar do meu pai. Desde as minhas primeiras lembranças, ele está sempre trabalhando demais, individado, sem dinheiro, estressado...
Gente, isso não é normal!
Mas sempre que falei  respeito, não parecia ser tão grave. Ontem me dei conta de que tenho que fazer algo para que isso não aconteça comigo também.

Quando já estávamos terminando a consulta, expliquei a Carmencita o quanto era diícil e constrangedor estar ali e falar tão abertamente sobre essa doença de mentir que tenho. Também lhe contei que nunca tinha conseguido falar abertamente com ninguém a respeito, que nunca, jamais havia admitido para ninguém que minto compulsivamente.

Foi aí que Carmencita me agradeceu pela confiança. Explicou que o que realmente preciso é de terapia, pois meu caso não necessita de medicações. Disse ainda que aguma coisa da minha infância deve ter desencadeado tudo isso, e que não devia me envergonhar, pois as mentiras são sintomas, e não crimes.

Depois de algumas orientções, nos despedimos.

Cheguei em casa muito aliviada.
Contei a meu marido que tinha consultado com uma psiquiatra, mas que ainda não estava pronta para lhe contar os motivos pelo qual estou procurando ajuda.
Ele foi muito compreensivo, e não fez mais perguntas.
Não tenho certeza se ele realmente não sabe, mas essa é uma preocupação para mais adiante.

Hoje pela manhã, entrei em contato com meu plano de saúde e descori que há ma nova lei que exige que os planos deem essa cobertua de terapia, e que há dois tipos de profissionais previstos em lei que TODOS os planos de saúde são obrigados a disponibilizar: psicólogos e terapeutas ocupacionais.

É muito bom saber disso, que já dispomos de mais recursos para controlar a doença.

Agora começam os trâmites burocráticos para a terapia.

Vamos ver como será essa próxima etapa.

Estou doente, mas não sou nenhuma coitadinha.


Um pseudolálico não é necessariamente um pobre coitado.
Vejamos o meu caso: sou bonita (pelo menos, é o que me dizem); tenho uma família legal, apesar dos problemas (que todas têm); trabalho num lugar legal e gosto muito do que faço; meu salário é maior do que a média para o tipo de função que exerço, e tenho um marido maravilhoso a quem amo muito, e que acredito que me ama também.
Lendo tudo isso, não parece o retrato da mulher perfeita, bem resolvida e que todos querem por perto? Ledo engano!
Não foi de graça que perdi tantos amigos, e já pulei de vários grupos.
Sentir pena de mim mesma, ou vergonha de tudo que já fiz não vai fazer o tempo voltar para que eu faça tudo certo dessa vez.
Ficar me martirizando, me julgando, como se eu fosse a pior pessoa do mundo também não ajuda.
Preciso levantar a cabeça e seguir em frente, sem desistir quando os problemas (que, com certeza, serão muitos) começarem a chegar.
Meu lema agora é:
- Desistir? Hoje não!

domingo, 24 de outubro de 2010

Mentirosa não: Pseudolálica!

O preconceito é grande.
Durante minhas pesquisas, li opiniões bem pesadas a respeito.

Quem não conhece, nunca leu a respeito, nos taxa de mentirosos, cínicos, mau caráter...

Na verdade, não é nada disso!

Quando a gente mente, é como se fosse um grito de socorro: POR FAVOR, GOSTE DE MIM!!!

Falando pessoalmente do meu caso, minto para me auto-afirmar.

Menti sobre o curso superior, que não tenho.
Menti sobre coisas que teria feito na infância, e não fiz.
Menti sobre coisas que teria, mas na verdade apenas gostaria de ter, e não tenho.


Quem é pseudolálico como eu, sabe bem como é.

Os motivos pelo qual mentimos são tão idiotas quanto absurdos.

Às vezes, quando percebo: bum! A mentira já saiu e eu nem senti!

Já menti sobre coisas tão idiotas e tantas, tantas vezes, que levaria tempo demais para contar.

O que importa é que as pessoas precisam saber que nós, pseudolálicos, sofremos muito com isso.

Queremos muito ser confiáveis. A gente realmente ama aquelas pessoas, mas nos pegamos mentindo para elas, como se o 'personagem' que criamos fosse mais digno de ser amado do que aquela pessoa que realmente somos.
O medo de nosso 'Eu Real' não ser assim tão interessante faz com que usemos máscaras que caem sempre.
E quando elas caem... Quanto sofrimento!

Como nossos amigos, nossa família, nossos amores podem acreditar que realmente os amamos, se não somos capazes de amar a quem somos de verdade?

Tem um monte de definições técnicas para a Pseudolalia, a doença da mentira.
Não sei dizer se existem muitos tipos dessa doença.
O que estou descrevendo é exatamente o que estou sentindo.

Depois dos últimos acontecimentos, tenho estado mais reflexiva.
Como ainda não consultei um profissional, fico tirando minhas próprias conclusões (com o tempo, vou descobrir se tenho razão ou não).

Criei um ideal de pessoa que gostaria de ser que está muito longe do que eu sou.
Acho que, se me mostar como sou, as pessoas não vão me amar.

Por enquanto, meu marido, a quem amo tanto, não teve problemas comigo a respeito dessa doença.
Arrisco a dizer que meu amor por ele é que está me dando forças para seguir adiante, e me tratar.

Em algum momento, terei de abrir o jogo com ele. Pretendo fazer isso quando me sentir mais preparada, mais segura.

Até lá, vou seguir firme e forte, e não vou desistir até que consiga controlar essa maldita doença.

Falar menos pode ser um bom começo...

Não me digam para ter sorte, mas sim FORÇA DE VONTADE!

Eu admito: tenho pseudolalia e vou procurar ajuda.

Muitas pessoas, assim como eu, sofrem dessa anomalia, desse distúrbio mental.

Tem gente pensa que 'é falta de vergonha na cara', e mais um monte de expressões de mesmo significado.

Mas a verdade é que ninguém quer ser um pseudolálico.
É uma doença SIM, e tão grave como a dependência química, arrisco dizer tal qual a epidemia do momento: o Crack.

Força de vontade é necessária, mas não funciona sozinha: precisa da ajuda de profissionais.

Há um tempo tenho pesquisado a respeito, mas a atitude de procurar ajuda foi só agora, que quase perdi um grupo de pessoas de quem gosto muito.

Não sei direito quando ou por que isso começou, mas lembro de episódios desde a infância, mais graves na adolescência, e ainda mais graves agora que estou na fase adulta (tenho 32 anos).

Um desses episódios que tenho bem nítido na memória foi na adolescência.
Como toda 'aborrecente', tinha o meu grupinho de amigas.
Confesso que não era necessariamente bonita.
Fisicamente falando, o pior eram os meus dentes: simplesmente medonhos. Tinha uma vergnha enorme de sorrir.
Aliado a isso, não tinha roupas bonitas para melhorar minha aparência, mas uma das minhas amigas tinha.
Foi quando inventei (admito, por inveja) uma história bem feia justamente a respeito da amiga mais bonita, e que os pais davam as coisas que eu gostaria de ganhar.
Ficamos afastadas por meses, e sofri muito com isso.
Depois de muito tempo, pedi desculpas e ficamos numa boa.
Ela conseguiu me perdoar, mas eu não aprendi a lição.

Esse tipo de coisa aconteceu várias e várias vezes.
Várias vezes menti...
Várias vezes fui desmascarada...
Mas sei lá eu 'por que cargas d'água', sempre voltei a fazer.

Ontem passei por uma situação dessas, mas foi diferente.
Nunca imaginei que realmente era querida por aquelas pessoas, e que elas seriam tão nobres em me perdoar.

E se essas pessoas puderam me perdoar, o mínimo que posso fazer em troca é me tratar.

Hoje estou convicta de que sou uma pseudolálica, e que sozinha não vou me curar.
Amanhã pela manhã procurarei um psiquiatra.
Vou tentar uma consulta o mais rápido possível.

Diariamente, tentarei postar aqui minha evolução, ou retrocesso :( .

Por enquanto, não quero tentar ajudar ninguém, pelo contrário, preciso muito de ajuda MESMO.
A gente só pode ajudar quando está bem, e definitivamente não estou.

Meu blog está aberto em tempo integral para comentários.

Quem puder, me ajude, por favor!